Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas. As primeiras,ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral. 'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa... Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!
segunda-feira, 3 de maio de 2010
SEM TEMPO PARA ASNEIRAS
TEXTO DE MÁRIO DE ANDRADE
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3 comentários:
AMIGO ABRAÃO, PARABENS PELO SEU MODO DE PENSAR E DE VER AS COISAS DE UM ANGULO QUE EU TAMBEM AS VEJO.POR ISSO QUE VOCE É MEU ÍDOLO ABRAÇO.
Toda genialidade do Mário de Andrade neste texto, que em síntese traduz nosso momento atual.
Concordo com tudo. Inclusive com a sua publicação, para os que , como eu, estão sempre apressados, encontrar neste canto de página, uma leitura nobre.
Lúcia Vasconcelos
Painho, adorei o texto, não conhecia e é de todo completamente verdadeiro...
Beijo!
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